Carter Adamson, à esquerda, e Larner Drew embarcam no mercado fonográfico com o Rdio
No setor musical, eles chamariam isso de retomada de carreira. Há quase uma década, Niklas Zennstrom e Janus Friis, empreendedores de tecnologia europeus, lançaram o Kazaa - programa de compartilhamento semelhante ao Napster - na internet, permitindo que milhões de usuários baixassem gratuitamente músicas, filmes e seriados.
O Kazaa foi processado por gravadoras e estúdios de Hollywood e fechou um acordo de dezenas de milhões de dólares, num momento em que a dupla vendia sua outra companhia, Skype, para o eBay por mais de US$ 3 bilhões. Agora, Zennstrom e Friis estão retornando às suas raízes musicais.
Seu novo empreendimento, Rdio, veio a público na quinta-feira em meio ao que de repente se tornou um mercado bem movimentado para os serviços de música pela internet, um campo ainda largamente dominado pelo iTunes da Apple.
O Rdio cobrará de US$ 5 a US$ 10 por mês para acesso ilimitado a um grande catálogo musical, inclusive músicas dos grandes selos. É uma estratégia bem semelhante a outros serviços musicais por assinatura que não se saíram bem, inclusive o recente Rhapsody, independente, e o Napster, uma divisão da Best Buy.
Clientes do Rdio que adquirirem o plano completo poderão tocar em stream e armazenar músicas numa variedade de dispositivos móveis, começando com o BlackBerry e o iPhone e, em breve, telefones com o sistema operacional da Google, Android. A empresa tem o apoio da Atomico Ventures, uma firma de capital de risco com sede em Londres.
"O Kazaa explodiu e foi usado por um número extremo de pessoas", disse Friis. "Tentamos negociar algumas coisas que estamos fazendo com o Rdio, mas obviamente era cedo demais".
Friss diz que, nos anos passados em tribunais e mesas de negociação, ele e Zennstrom desenvolveram boas relações com executivos da indústria musical. "Ganhamos certo respeito uns pelos outros depois de uma boa luta, por assim dizer", disse ele.
Michael Nash, vice-presidente executivo para estratégia digital do Warner Music Group, que licenciou seu catálogo para o Rdio, afirma que o histórico da dupla de criar ferramentas gratuitas de compartilhamento foi perdoado em meio à busca do setor por um modelo de negócio, enquanto as vendas de CD continuavam a cair.
"Resolvemos o passado", disse Nash. "Esses caras estão focados no futuro".
O Rdio, com sede em São Francisco e 22 funcionários, começa a operar nesta semana num período de testes restrito a convidados e estará mais amplamente disponível no final de 2010. Seu chefe de operações é Carter Adamson, um programador original do Skype. Seu chefe executivo é Drew Larner, que já foi executivo do estúdio cinematográfico Spyglass Entertainment e que ainda busca pistas em Hollywood sobre o futuro do negócio fonográfico.
"A venda de DVDs já movimentou o negócio cinematográfico, mas muita gente não se importa mais em ter DVDs", disse Larner. "Acreditamos que isso tenha aplicação direta na música".
A despeito do recente surgimento de companhias como Rdio e um serviço por assinatura semelhante, Mog All Access, a música por assinatura na internet não conquistou ainda a maioria dos consumidores. O Rhapsody, lançado em 2001 e separado em abril da fabricante de softwares para mídia digital RealNetworks, perdeu dinheiro e ainda tem cerca de 650 mil assinantes. O Napster se nega a divulgar seu número de associados desde que a Best Buy o adquiriu em 2008. Steven P. Jobs, chefe executivo da Apple, já disse repetidas vezes que a empresa não tem interesse em oferecer um serviço por assinatura.
Além disso, as grandes gravadoras até agora rejeitaram uma versão americana do Spotfy, um popular serviço por assinatura europeu. Executivos do setor se negam a permitir que música seja tocada gratuitamente no Spotify junto de anúncios.
Uma pessoa informada dos planos da Spotify disse que a companhia sueca ainda pretende entrar nos EUA no outono, embora elementos do serviço possam ser alterados no país.
Analistas do setor afirmam que empresas como Rdio e Spotify podem aproveitar as mudanças tecnológicas que aumentaram a viabilidade da música por assinatura ao permitir que as pessoas escutem música na internet numa ampla variedade de aparelhos de forma mais barata e fácil. Eles apontam a proliferação de smartphones, o surgimento de redes de banda larga sem fio e a expansão do ecossistema de aplicativos que permitem que programas complexos funcionem em dispositivos móveis.
Ao mesmo tempo, os selos musicais se tornaram mais flexíveis em seus termos de licenciamento e deixaram de incluir músicas individuais nos chamados softwares de gestão de direitos digitais, o que com frequência causava problemas para clientes que tentavam fazer funcionar serviços de música em vários aparelhos móveis.
Mas um problema é que muitos desses novos serviços de música por assinatura são quase idênticos. O Rdio está apostando parcialmente em seus elementos sociais - a habilidade de seguir amigos no site, ver o que eles estão escutando e conferir uma lista das mais populares entre as pessoas que você conhece. Mas esses atributos podem não fazer muita diferença para usuários casuais.
A sobrevivência talvez acabe se resumindo a aqueles com maiores recursos financeiros, e ainda aqueles que possam se aliar a grandes companhias, como serviços a cabo e operadoras sem fio interessados em incluir a assinatura musical em seus planos mensais mais amplos.
Executivos da Rdio afirmam que consideram essa possibilidade. Eles também afirmam que podem agregá-lo ao Skype, o serviço telefônico gratuito pela internet usado por 560 milhões de pessoas ao redor do mundo.
No ano passado, Zennstrom e Friis se juntaram a um grupo de investidores que comprou o Skype de volta do eBay - outro exemplo de seu retorno às origens.
"Nós obviamente faremos acordos de distribuição", disse Friis. "E o Skype é definitivamente uma das companhias que podem se adequar a isso de forma atraente".

0 comentários:
Postar um comentário