quarta-feira, 12 de novembro de 2008

E-Sports


2008 está chegando ao fim e o Brasil coleciona mais um ano de fiascos no e-sport. De quem é a culpa? Da crise? Das lan houses? Dos jogadores? Dos cartolas? Dos patrocinadores? Enfim, pra onde vamos com esse tal de e-sports?
Como muitos sabem, o nascimento do e-sport no Brasil aconteceu em 2001 com a chegada da CPL ao país. Não um classificatório ou uma preliminar mas sim um evento oficial internacional que contou com a vinda do então todo poderoso SK.de para mostrar aos brasileiros que na verdade tinhamos muito o que aprender.
Infelizmente para uma comunidade apaixonada pelo Quake 3, os grandes torneios chegaram já em uma época de transição onde o Counter-Strike começava a despontar como a nova vedete mundial. Tive a oportunidade de vivenciar o último grande evento mundial de Quake 3 da CPL - a Babbages - que como tudo o que a organização fazia, foi realizado no Hyatt de Dallas - EUA. É difícil descrever o glamour e a verdadeira emoção daquele evento. Os jogadores tratados como estrelas de um esporte tradicional, Fatality entrando no salão com câmeras de TV e fotógrafos em sua volta deixando nada a desejar a uma grande estrela do tênis entrando em quadra. ESPN, CNN, CBS e outras grandes emissoras cobrindo o evento. Mesmo com tudo isso, o Quake 3 veio a falecer logo em seguida dando espaço ao CS.
O CS nasceu torto e polêmico e sua própria essência "realista" é também o seu grande motivo de atração quase fanática de seus jogadores mas de enorme repúdio do público em geral pelas menções a problemas do cotidiano como armas, violência, terrorismo e afins. Falem o que quiser mas: NÃO EXISTE A MENOR CHANCE DO CS ALGUM DIA VIRAR UM JOGO DE MÍDIA TRADICIONAL. Infelizmente essa é a realidade por mais dolorosa que seja.
Mas voltando ao assunto do e-sport no Brasil como podemos analisar a performance nacional?
Desde 2001 o país recebe anualmente etapas dos maiores eventos internacionais: CPL (falecida), ESWC, WCG e recentemente KODE5. Claro que existem ainda inúmeros outros torneios importantes (ESL, WEG e afins) mas estes por um ou outro motivo acabaram por não pousar em terras tupiniquins.
As mesmas etapas acontecem em diversos países do mundo e como no Brasil, jogadores amadores treinam independentemente, apenas com recursos familiares (muitas vezes nem isso) e uma fatia que não dá para representar nem um ponto percentual realmente recebe por isso e pode ser chamada de "profissionais do e-sport".
Houve uma época em que 4 times brasileiros de CS conseguiram realmente desenvolver uma estrutura e suporte junto a patrocinadores onde os próprios jogadores estrangeiros diziam que nem lá fora isso existia. Eram eles: Mibr, G3X, LadieS.AMD e CTM.Intel. Dos 4, hoje resta somente o Mibr.
As lan houses morreram, os grandes patrocinadores sumiram, somente dois eventos de peso acontecem no Brasil e mesmo assim a duras penas.
A ESWC troca de parceria todo ano pois o modelo de negócio dos franceses não reflete a realidade nacional e nunca um parceiro fez dinheiro com o evento. O público não comparece, a imprensa já não tem o mesmo interesse e os próprios jogadores tratam o evento como um torneio de lan-house, recebendo suas premiações com cara de sono e descaso, irritando os patrocinadores e organizadores. Um evento como a ESWC custa aos patrocinadores em torno de R$ 200.000,00 para se realizar e os sites de e-sports fazem uma cobertura pífia como se fosse um evento de lanhouse.
A WCG é um assunto a parte pois ela possui uma verba própria que vem da Samsung internacional e com isso já é um evento "garantido". Claro que eles procuram e são procurados por outras empresas para colaborar no evento seja com estrutura seja com mais verba para que a própria Samsung possa economizar parte de seu dinheiro. Com certeza é o evento mais grandioso e bem organizado. Com preliminares nacionais e um conforto a mais aos jogadores como viagens e hospedagens garantidas. Mas a mesma padece do mesmo problema da ESWC. Presença muito pequena de visitantes o que tira o interesse de alguns patrocinadores. Boatos são de que algumas WCG já custaram em torno de R$ 600.000,00 ou muito mais. Tenho certeza que os diretores e presidentes das empresas não devem ficar muito felizes gastando essa verba, vendo seus eventos vazios e onde o jogo principal é um mar de cabeças explodindo em confrontos da polícia e bandidos.
O filho do Presidente do Brasil criou uma televisão que tinha como objetivo falar de games 24 horas. Depois de um ano ela nunca chegou a ser nem 12 horas diárias no ar, nenhuma empresa de games quis investir em espaço televisivo, as ligas não tinham verba desse porte e o gamer de verdade não tira o olho do computador para ver televisão. Resultado: Acabou virando uma TV de música e video clipes e este ano acabou saindo do ar. A sim ela está no ar lá em Minas num canal obscuro da Oi mas falando sério quem liga pra isso?
Grandes portais de games nunca deram a importancia ao e-sport. UOL, Terra, IG colocam uns servidores no ar, de vez em quando patrocinam algum evento claro com cobertura de mídia, quase nunca com verba, mas o assunto não tem continuidade, não tem nexo. O usuário casual não sabe e nunca foi instruído em como acompanhar uma partida de CS.
Mibr: sucesso ou sonho utópico? De uma brincadeira de um pai apoiando o hobby de seu filho ao time de sucesso internacional, a trajetória do Made in Brazil é rodeada de polêmicas, vitórias, cartolagens, doping, trocas de jogadores em cima da hora, mas tudo no final resumido em uma paixão sem limites pelo jogo. Um time sem competição no Brasil. Culpa deles próprios pois literalmente compraram a concorrência (g3x e GC) e culpa claro da comunidade por não ter se estruturado da mesma forma que o proprietário do Mibr fez de forma não tão planejada mas corajoso e brilhante. Todo o mérito para ele.
Aonde erramos? Não nos organizamos o bastante? Interesses pessoais impediram o bem do e-sport e da coletividade? O jogo realmente nunca colaborou para a massificação? Sem lan houses perdemos as "escolinhas"? Porque não jogamos tanto online?
Enfim, inúmeras são as perguntas sem respostas e o debate fica aberto: ainda podemos dizer que o e-sport no Brasil e no mundo tem futuro? Falavamos isso fervorosamente em 2003/2004 que foram sem dúvida os melhores anos do e-sport nacional mas e agora? Gamer ainda é amador, os torneios em nada mudaram, o jogo principal continua sendo o violento e de zero apelo de mídia - CS. O jogo do esporte mais famoso do mundo, o futebol, inexplicavelmente ainda não possui um mod competitivo oficial onde as seleções de cada país são todas iguais em habilidades e realmente poderíamos assistir a uma disputa final entre Brasil e França com os jogadores utilizando suas seleções nacionais e não Milan x Milan.
Os sites "especializados" continuam sendo amadores, sem qualquer retorno financeiro ou planejamento comercial o que reflete negativamente o segmento pois são eles os primeiros a serem analisados por potenciais patrocinadores na hora de se decidir ou não o investimento futuro. O que se vê são copy/pastes de sites internacionais, uma comunidade que só sabe dizer "Aê veio" e coisas piores.
A frase que a garotada adorava falar sem parar: "Lá fora tudo e lindo" (ou algo similar) não reflete a verdade. Lá fora as coisas também não andam tão maravilhosas. A CPL morreu, torneios nacionais continuam capengas e sem apoio. Um exemplo é o próprio Estados Unidos onde em 2008 a ESWC quase não teve etapa nacional. Ninguem ganha dinheiro organizando e-sport em seu país isso é um fato. A não ser claro que voce seja uma agência terceirizada que superfatura os custos para que o patrocinador pague. Mas fora isso somente as organizações internacionais é que conseguem ganhar algo ou somente empatar seus gastos.
Lanparty está se tornando um modelo de sucesso mas os cyberatletas estão torcendo o nariz pois em eventos como esse eles não são mais as estrelas supremas e tem de dividir seu espaço com os gamers casuais. Dreamhack e Campus Party são grandes exemplos disso.
Vamos ver aonde tudo vai parar. Continuo um grande entusiasta e torço para que o e-sport cresça mas isso agora estarei acompanhando de camarote escrevendo e comendo um Xis e tomando uma Coca - Cola (afinal gamer que é gamer só come isso) e não mais nos bastidores sofrendo e dormindo pouco.
Força Brasil e mais força ainda e-sport.

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